Mais uma cara transfigurada. Marcada pela dor. Todas as noites via caras em que se lia o vazio de em nada acreditar.
Sentado no banco ao fundo do balcão, não pude evitar. Mais uma bebida, mais um brinde às lágrimas, um convite ao choro. Sempre soube quem ia ocupar o banco ao lado do meu, mas demoras tanto a chegar minha querida.
Vejo-te agora entrar pela porta. Estás deslumbrante, ou sou eu que já brindei demais e vejo-te entrar desfocada e luminosa.
Pestanejo e deixo de te ver. O banco continua desocupado e eu peço mais uma bebida, desta vez com muito gelo. Preciso de voltar a mim lentamente.
Os teus olhos rasgados, verdes, a pele branca e imaculada dos teus ombros... como me apetece beijá-los! Só o facto de te ver aqui deixa-me ébrio.
Tocas-me por detrás, palmadinhas no ombro. Tomaste agora o rosto de um homem robusto obviamente com uns quilos a mais e delicadeza a menos enquanto me indicava a saída.
Saí. Entrei na porta ao lado. Voltei a beber querida. Hoje tornas-te ainda mais meiga. Entras em mim, alegras-me, fazes-me chorar e respirar. Alguns vêm-te em sonhos, eu bebo-te e sinto-te em mim. Assim és real.
Desde cedo que soube o que queria de ti. Queria-te perfeita. Vejo-te todas as noites e atinges a perfeição.
Arrasto-me até casa sem saber em que rua estou. Até as coisas inanimadas têm vida, já que insistem em esbarrar em mim.
Vou só, como sempre, esperando esbarrar em ti.
Acordei. O sol queimava-me a vista e o choro o fígado. Resolvi manter-me de olhos fechados enquanto me tentava levantar.
O meu estômago recolheu-se numa dor arrepiantee deixei o meu corpo governar sobre mim. Uma dor de cabeça latejante atinjiu-me depois de um arrepio incontrolável. Perdi as forças nas pernas.
Sabia que estavas aqui. Não queria abrir os olhos com medo que desaparecesses como todas as outras vezes. Imaginei que falavas para mim perguntando-me se estaria melhor. Agora tinha realmente perdido as minhas faculdades mentais. Nunca antes me tinhas dirigido a palavra. A tua voz doce, gentil. preocupada levou-me a querer abrir os olhos. Associar um rosto á voz.
Tu abandonar-me-ias. Não podia correr o risco. Queria-te perfeita como sempre, e a realidade assustava-me tanto! E tu não podias habitar nessa realidade. Queria mas não consentia. Seria doloroso demais.
Senti a tua mão na minha e precipitei-me a correr. Não podias ser real meu amor.
Eras demasiado perfeita para isso.
domingo, julho 20, 2003
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